Shantaleando

Está cada dia mais difícil massagear a gorduchinha. Acontece que agora como descobriu as mãos (e os dentinhos estão coçando) ela quer ficar o tempo todo com elas na boca. Massageio a barriga tranquilamente, as perninhas também, costas, rosto, enfim. Mas é puxar o bracinho que ela começa a ficar brava e quer lutar comigo para levar a mão de volta à boca.

Eu não insisto muito. Afinal o objetivo é que seja um momento de relaxamento. Se for para incomodar, melhor não fazer. Mas continuo ali, tentando focar nas partes que ela gosta. E, nossa, é uma delícia.

Comecei a fazer Shantala na Rita quando ela tinha um mês e meio. No começo incomodava mexer na barriguinha, por causa das cólicas. Eu massageava, parava, amamentava e assim que ela acalmasse voltava a fazer. Ouvi falar muito sobre como a Shantala era boa para os bebês e acredito mesmo que seja, mas sinceramente, acho que é muito melhor para mim.

Só para começar as pernas dela parecem uma massa de pão. Para mim isso já seria o bastante para querer ficar ali mexendo durante horas.

Mas tem muito mais do que isso no momento, é mágico. Eu costumo ficar cantando algo do tipo Gatinha Manhosa, Reconhecimento ou Saiba e ela fica toda faceira querendo me responder. Sorri, solta seus primitivos “ô”, “ae”, “angu”, “agui” entre outros fonemas difíceis demais para serem escritos. Mas de vez em quando a gente fica em silêncio. Só olhando nos olhos uma da outra e se conectando naquele nível não-verbal que pouca gente se lembra.

Eu nem sei explicar quanta coisa a gente consegue falar uma para a outra em silêncio. Os 20 ou 30 minutos da shantala são de longe o momento do meu dia em que mais entro em contato com ela e comigo mesma. É surreal. Tudo o que minhas mãos passam para a Rita está ligado à minha energia, aos sentimentos e desejos da Paula mãe e às memórias subconscientes da Paula filha. E quando a gente fica ali olhos nos olhos é como se só existíssemos eu, minha filha e aquele nosso momento.

Pouco tempo depois de receber massagem a bonitinha cai no sono. E dorme numa paz de dar inveja para daí acordar toda sorridente querendo brincar.

Acredito de verdade, que a Shantala seja capaz de um montão de outras coisas, como demonstram as pesquisas (ouvi falar até que crianças massageadas vão melhor na escola), e que tenham função terapêutica mesmo. Mas, de longe, a melhor das coisas é levar a gente para um universo paralelo, só de nós duas.